O Século XIX foi um século militarista, influenciado diretamente pela arrogância de Napoleão e sua tentativa de conquistar o mundo. Seu exemplo, e a tentativa de se defender de suas guerras, fez com que potências estrangeiras buscasse na militarização a defesa para abusos por parte dos franceses e outros povos.
Assim foi também com o Brasil. Entretanto, para que o Exército pudesse ser respeitado, era necessário que o seu contingente fosse respeitável. Um pequeno exército, mesmo bem armado, seria de fácil controle. Porém um exército numeroso venceria pela quantidade e resistência.
Nosso glorioso Exército, especialmente no período imperial, tinha em seus efetivos duas classes de militares: o oficialato, constituído de pessoas da etnia branca e a base do contingente militar constituída por negros libertos, pardos e pessoas de poucas posses.
O Império do Brasil contava com um poderoso exército, tanto pela qualidade de seus comandantes quanto pela persistência de seus soldados. Entretanto, o envio para as colonias militares, geralmente isoladas, era feito por recrutamento e não por ordem superior. O atrativo, para a imensa maioria, era a possibilidade de ganhar um pedaço de terra após determinado período de serviço na Colônia Militar. Poderíamos publicar inúmeros recortes de jornais demonstrando esta afirmação. A título de amostragem publicamos a matéria legal do jornal O Conservador de 28 de novembro de 1885:
Enquanto alguns solicitavam engajamento, outros já tinham cumprido o prazo necessário para ter o seu lote de terras.
A notícia acima foi publicada no jornal O Mercantil de 31 de agosto de 1865. Este tipo de publicação legal era comum nos jornais catarinenses da época, incluindo a publicidade dos pedidos de soldados para entrega de seus lotes, demonstrando que a distribuição de terras era uma moeda de troca, entre o governo imperial e os soldados recrutados para ocupar e defender os caminhos de Desterro a Lages.
Para terminar este artigo cito a obra do historiador ADELSON ANDRÉ BRÜGGEMANN “Soldados (in)visíveis: componentes do Exército brasileiro na colônia militar de Santa Thereza (1854-1883), província de Santa Catarina” que conclue:
Desse modo, a análise dos documentos oriundos da colônia militar de Santa Thereza, e principalmente aqueles que detalham o cotidiano dos soldados que trabalhavam na colônia, podem esclarecer aspectos importantes a respeito da composição do Exército brasileiro e as formas de recrutamento dos soldados. A concessão de terras, frequentemente encontrada na documentação da colônia, faz pensar a respeito do significado que a terra tinha para essas camadas mais humildes da população brasileira que serviram no Exército. Acredita-se que a promessa de concessão de terra para os soldados tenha sido o primeiro grande comprometimento governamental de distribuição de terras entre os brasileiros de origem humilde (BEATTIE, 2009: 79)
A prática de sucesso foi interrompida, ao que tudo indica, pela implantação da República.