Lages e Desterro, duas cidades de importância, uma localizada no Planalto e outra no Litoral, separadas uns 200 km entre si, com vários dias de viagem (se feita a pé ou a cavalo)… mas que tinham uma vocação comum: fazer progredir este Estado dedicado a Santa Catarina.
Um livro muito importante para leitura sobre período é Caminhos da Integração Catarinense – Do Caminho das Tropas a Rodovia BR282. Nele, António Carlos Werner descreve com minúcias de detalhes os esforços de gerações na escolha do melhor trajeto e na construção da estrada.
Em ponto estratégico na antiga ligação de Desterro e Lages, o Império do Brasil mandou erguer a Colônia Militar Santa Thereza. Foi fixado o primeiro acampamento aos pés do Trombudo e devido as condições inapropriadas da localização, foi mudado o local para o assentamento da Colônia, às margens do Rio Itajai do Sul, onde hoje se localiza o Distrito de Catuíra.
Alí foram instalados os militares que deveriam proteger quem subisse ou descesse pela primitiva estrada. Mas, quem foram estes soldados? Quem eram os guardiões da Serra?
“Soldados (in)visíveis: componentes do Exército brasileiro na colônia militar de Santa Thereza (1854-1883), província de Santa Catarina” do historiador ADELSON ANDRÉ BRÜGGEMANN nos conta com detalhes em seu artigo publicado em Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 cujo texto pode ser lido na íntegra em Soldados (in)visíveis
Nos meses de fevereiro e março de 1854 desertaram da colônia três soldados colonos (SANTA CATARINA, 1855: 10). Dos cinquenta e um militares que viviam na colônia no último mês de 1854, vinte e nove eram provenientes de Santa Catarina, sete de Pernambuco, quatro da Bahia, dois de Minas Gerais, dois de São Paulo, um do Maranhão, um do Ceará, um do Rio de Janeiro, um do Rio Grande do Sul e três da Alemanha. De todos os habitantes da colônia, oitenta pessoas eram provenientes de Santa Catarina: vinte e nove soldados, dezoito homens e trinta e três mulheres, familiares dos soldados. De Pernambuco, da Bahia, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Maranhão e do Ceará, nenhum dos soldados possuíra familiares na colônia. Quanto ao soldado vindo do Rio de Janeiro, este possuía esposa. Do Paraná havia somente uma mulher. Da Alemanha, ao todo eram nove pessoas, três soldados, dois homens e quatro mulheres. De Buenos Aires uma mulher e das Ilhas Canárias outra.
Praticamente todo o Brasil estava representado aqui na Colônia Militar Santa Thereza!
Continuemos:
Quanto à faixa etária dos soldados naquele ano, sete soldados tinham entre 13 e 20 anos de idade, cinco deles eram solteiros e dois casados. Vinte e sete soldados tinham entre 21 e 30 anos de idade; quatorze eram solteiros, doze casados e um viúvo. Dez soldados possuíam idade entre 31 e 40 anos de idade. Três deles eram solteiros e sete eram casados. Entre 41 e 50 anos existiam na colônia cinco soldados; um solteiro, três casados e um viúvo. Entre 51 e 60 anos de idade, havia somente dois soldados, um solteiro e outro casado (SANTA CATARINA, 1855: 10-11). Entre os soldados colonos, cinco eram carpinteiros, um era marceneiro, dois eram pedreiros, três eram oleiros, dois eram serradores, quatro eram alfaiates, um era sapateiro, dois eram ferreiros e um era barbeiro sangrador; os demais eram todos lavradores.
Podemos dizer que a jovem colônia tinha uma população também jovem em sua maioria e as profissões básicas para o progresso de um povoado encontravam representadas aqui: agricultor, carpinteiro, marceneiro, pedreiro, oleiro, serrador, alfaiate, sapateiro, ferreiro e barbeiro.
Vamos em frente:
O diretor da colônia, João Francisco Barreto, encaminhou ao referido presidente de província o mapa do pessoal da colônia relativo ao ano de 1860. Desse documento é possível extrair as seguintes informações: dos vinte e cinco soldados da colônia, quinze possuíam entre 31 e 40 anos de idade, cinco entre 41 e 50 anos, quatro entre 51 e 60 anos e dois entre 61 e 70 anos de idade. No mesmo ano, de acordo com esse mapa, lá viviam cento e quinze pessoas. Dessas, cem eram provenientes da província de Santa Catarina, cinco de Pernambuco, duas da Bahia, uma de Minas Gerais, uma do Ceará, uma do Rio de Janeiro, duas do Rio Grande do Sul, uma do Maranhão, uma de Buenos Aires e uma de Portugal (este era um soldado e solteiro) (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1860).
Em 1861 a colônia militar de Santa Thereza possuía cento e vinte e cinco habitantes. Desses, vinte e oito eram soldados colonos. De todos os habitantes da
colônia, cento e nove pessoas eram naturais da província de Santa Catarina, cinco de Pernambuco, dois da Bahia, um de Minas Gerais, um do Ceará, um do Rio de Janeiro, três do Rio Grande do Sul, um do Maranhão, um de Buenos Aires e um de Portugal.Todas as pessoas vindas de outras províncias e países, sem exceção, eram solteiras e não possuíam familiares na colônia. Quanto à faixa etária dos moradores da colônia naquele ano: vinte e noves pessoas tinham entre 1 e 7 anos de idade; dezoito entre 8 e 12 anos; treze entre 13 e 20 anos; dezesseis entre 21 e 30 anos, dezessete entre 31 e 40 anos; doze entre 41 e 50 anos; três entre 51 e 60 anos; e, cinco entre 61 e 70 anos (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1860).
Em 1863, dos brasileiros livres que viviam na colônia, vinte e nove homens eram brancos, quarenta e cinco eram pardos e oito eram negros. Quanto às mulheres, trinta e duas eram brancas, trinta e seis pardas e quinze negras. Naquele ano havia seis escravos na colônia: dois homens e quatro mulheres. Um escravo e uma escrava tinham mais de 21 anos, os demais eram menores (SANTA CATARINA, 1863: 35).
No ano seguinte a colônia contava com cento e sessenta e quatro pessoas: oitenta e sete homens e setenta e sete mulheres. Eram livres cento e cinqüenta e oito pessoas, seis eram escravos. Dentre os livres, trinta e dois homens e vinte e nove mulheres eram brancos; eram pardos quarenta e um homens e trinta e oito mulheres; e, negros, doze homens e seis mulheres. Do total de livres, havia vinte e cinco casais e três viúvas, os demais (cento e cinco pessoas) eram solteiros (SANTA CATARINA, 1865: 29). Havia, em outubro de 1864, vinte e três soldados e sete adidos da Companhia de Inválidos (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1864a).Em 1865 viviam na colônia vinte e quatro soldados e sete adidos da Companhia de Inválidos (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1865). Dois anos depois, conforme o mapa do pessoal da colônia militar (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1867), viviam lá vinte e dois soldados e quatro adidos da Companhia de Inválidos. Entretanto, nos últimos anos da década de 1870, a colônia contava com apenas nove soldados (COLÔNIA MILITAR DE SANTA THEREZA, 1878), ou pouco mais.
Nem tudo eram rosas na nascente colônia. As dificuldades para enviar para cá os soldados de 1ª classe, como determinava o regulamento, trouxe algumas incomodações:
Em 1855 foram retirados da colônia quatorze soldados com quatorze pessoas da família, por terem completa negação à lavoura e despenderem em puro ócio os dias que eram dedicados aos trabalhos em seus sítios (SANTA CATARINA, 1856: 11).
Alguns desertaram e se uniram aos Bugres, azedando a relação entre os colonos e os índios… Mas isto é outra história que será contada em outra ocasião.