Há gente por aí que não gosta de conversar com pessoas de mais idade. Os pensamentos estão meio embaralhados, as vistas já não enxergam mais e o exterior está todo enrugado.
De vez em quando converso com um velhinho que tem mais de 261 anos… é isso mesmo! Você não leu errado e eu não escrevi errado! Talvez é o mais velho aqui da nossa região. Poucos o conhecem, e menos ainda se interessam por ele. Pelo exterior você vê que ele não é novo, mas não lhe dá tanta idade, e pelo interior é impressionante a conservação e a quantidade de informações que transmite.
Ele frequentou palácios quando mais novinho, andou por lugares que a gente nem imagina. Durante a fatídica Revolução Francesa ele ficou escondido em algum lugar até que o colocaram num navio e veio parar aqui no Brasil. Quando veio para cá? ninguém sabe, nem mesmo ele. Parece que é a sina de todos nós quando ficamos velhos: só nos lembrarmos de nossa infância e ele também. Só lembra daqueles primeiros anos. Mas não faz mal, o que ele me conta é tão interessante!
Uma vez perguntei a ele: O que é a Física? Ele me respondeu: “C´eft-ce l´étude & la contemplation de la nature, ou plus proprement, la fcience des Corps”
Ah! me desculpe. Esqueci de dizer que ele só fala francês e dos tempos em que era menino, por volta de 1752.
Encadernado em couro e impresso em folhas feitas de trapo ou de casca de arroz, o livro mantem toda sua forma e beleza.
Os livros são como pessoas. Elas congelam em suas páginas uma parcela do tempo e ali fixam o conhecimento e as histórias de uma época.
O que tenho em mãos, como disse é de 1752. Foi comprado por um professor de um francês, que morava no interior de São Paulo. Como era apenas um volume de uma coleção de 8, não interessava ao professor que me perguntou se eu queria. Claro que aceitei. Não tanto pelo valor monetário do livro, que é pequeno, mas pelo valor histórico do mesmo.
“La Sciende des Personnes de Cour, D´épée et de robe, du Sieur de Chevigni”. Antigamente davam títulos grandes para os livros, hoje, quanto menor mais sucesso fazem, por que será? Mas o título, para quem não sabe francês, quer dizer: O conhecimento das pessoas da Corte, de espada e de beca, do Senhor de Chevigni.
Esse velhinho de 261 tem tanta coisa para contar… e não apenas o que ele fala, mas o que ele permite conhecer através de pesquisas levantadas por suas palavras.
Um dia, quem sabe, falarei sobre elas. E, para aqueles que gostam de coisas antigas, abaixo vai duas ilustrações do livro.